No ano de 1573, o índio Arariboia, também conhecido pelo nome cristão de Martim Afonso de Souza, recebeu da Coroa portuguesa um pedaço de terra como recompensa por ter contribuído para a expulsão dos franceses da Baía de Guanabara. Ou, pelo menos, é o que conta a história oficial. Análises mais profundas do contexto histórico pelo qual passava a terra de Pindorama no século XVI revelam que, na verdade, o líder indígena recebeu suas terras por ter auxiliado os colonizadores no violento extermínio de outras tribos que ocupavam o litoral fluminense. Inicialmente batizado de São Lourenço dos Índios,esse terreno ficava bem em frente à cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e serviria de ponto de origem para o município de Niterói, palavra que, no tupi, quer dizer “água escondida”. Hoje com quase meio milhão de habitantes, o povoado fundado pelo líder temiminó cujo nome significa “cobra da água de arara” completa 440 anos de sua fundação. Para comemorar a data, reunimos aqui alguns filmes que tiveram a ex-capital do estado do Rio de Janeiro como cenário. Desde algumas cenas soltas em pontos turísticos até tramas inteiras passadas em Niterói, os filmes abaixo garantiram um lugar na tela grande para a sesmaria recebida por Arariboia nos tempos do Brasil colônia.
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PALMEIRAS NEGRAS
De Lars-Magnus Lindgren
Com Max von Sydow, Bibi Andersson
Quem poderia imaginar que uma produção sueca, insatisfeita com o Mediterrâneo, buscaria o litoral brasileiro como locação para um filme? Foi em Niterói que encontraram vários cenários para uma trama envolvendo uma jovem finlandesa, marinheiros suecos, ladrões e alcóolatras. Há cenas em vários locais da Ponta d`Areia, praia de Itaipu e outros locais, porém o mais curioso é ver a barcaça que transportava veículos antes da construção da ponte Rio-Niterói. Não bastasse ser estrelado por Max von Sydow e Bibi Andersson, de quebra o filme ainda conta com participações de José Lewgoy, Wilza Carla e Fábio Sabag.
Link para o Filme:
ANCHIETA JOSÉ DO BRASIL
De Paulo Cesar Saraceni
Com Ney Latorraca, Luiz Linhares, Maurício do Valle
O padre José de Anchieta chega ao Brasil em 1553 e logo aprende a língua dos índios Tupi. Ele elabora uma gramática, observa os costumes e classifica a flora local, evitando atritos com os colonos. Durante a intervenção francesa, negocia a paz e ocupa-se dos Tamoios, com o padre Manoel da Nóbrega. A escravatura compromete seu apostolado, mas Anchieta converte-se numa figura mítica. O filme teve uma única cena filmada em Niterói: um enforcamento nas ruínas do Museu de Arqueologia de Itaipu.
A LIRA DO DELÍRIO
De Walter Lima Jr.
Com Anecy Rocha, Cláudio Marzo, Paulo César Peréio
• Brasília 78 – Melhor Diretor, Atriz (Anecy Rocha), Ator Coadjuvante (Paulo César Peréio), Fotografia e Montagem
Os participantes do bloco de carnaval Lira do Delírio se cruzam num cabaré da Lapa carioca, onde o filho de uma dançarina é sequestrado. Para descobrir o raptor e as razões do crime, ela conta com a ajuda de um repórter policial, que ao mesmo tempo investiga o homicídio de um homossexual. Realizado em duas etapas, o filme teve boa parte rodada em 16 mm no carnaval de Niterói de 1973, quando os atores envolveram-se em episódios reais de violência nas ruas. Três anos depois, foi rodada em 35 mm outra parte, em que os atores improvisaram a história policial de sequestro e assassinato, usando seus próprios nomes e o temperamento pessoal de cada um.
CARLOTA JOAQUINA – PRINCESA DO BRASIL
De Carla Camurati
Com Marieta Severo, Marco Nanini, Ludmila Dayer
• Associação Paulista de Críticos de Arte 96 – Melhor Atriz Revelação (Ludmila Dayer)
Considerado o pontapé inicial para a retomada do cinema brasileiro após a tragédia da Era Collor, “Carlota Joaquina” conta, com um ar de sátira, a história da princesa espanhola que se tornou esposa de D. João VI e veio parar no Brasil para fugir das invasões napoleônicas. Para retratar o século XIX e a chegada da família real, a produção viajou para diversos cantos do país, desde a ilha de Paquetá até São Luís do Maranhão. Em Niterói, a praia do Forte Barão do Rio Branco, em Jurujuba, foi escolhida para abrigar algumas cenas da futura Rainha Consorte de Portugal e Imperatriz do Brasil.
O GUARANI
De Norma Bengell
Com Márcio Garcia, Tatiana Issa, Glória Pires
Baseado no romance homônimo de José de Alencar
Uma das mais cotadas locações niteroienses, a Fortaleza de Santa Cruz foi um dos cenários usados pela produção de um dos maiores escândalos da Retomada. O forte no bairro de Jurujuba já abrigou as equipes de filmes, novelas e seriados, desde o popular folhetim “Terra nostra” até a minissérie bíblica “A história de Esther”. Nada mais natural, portanto, do que ter sido escolhido por Norma Bengell para as filmagens de sua versão do clássico de José de Alencar. O filme sobre o amor do índio Peri pela jovem branca Ceci foi fracasso de público e crítica e acabou sofrendo auditoria da Receita Federal, que achou uma série de problemas na prestação de contas da produção.
POLICARPO QUARESMA, HERÓI DO BRASIL
De Paulo Thiago
Com Paulo José, Giulia Gam, Chico Díaz
Baseado no romance “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto
A história do congressista patriota que desejava transformar o tupi-guarani em idioma oficial do Brasil teve como cenário prédios históricos do Rio de Janeiro. A Casa de Rui Barbosa e o Museu Benjamin Constant foram alguns dos lugares escolhidos pela equipe de produção, que também levou as filmagens para a cidade de Ouro Preto. Localizada no bairro de Jurujuba, a Fortaleza de Santa Cruz foi uma das locações escolhidas. O conhecido forte niteroiense foi palco de uma revolta pouco tempo depois da proclamação da república, época em que é ambientada a trama de Lima Barreto.
CONCEIÇÃO: AUTOR BOM É AUTOR MORTO
De Daniel Caetano, Samantha Ribeiro, André Sampaio, Guilherme Sarmiento, Cynthia Sims
Com Augusto Madeira, Jards Macalé, Isabel Tornaghi
Como não podia deixar de ser, o primeiro longa-metragem dirigido por alunos da UFF como trabalho de final de curso teve várias de suas cenas em Niterói. Entra as locações da história de um grupo de cineastas que discutem a trama de um filme, para o desgosto de seus personagens, estão a estação das Barcas, o Terminal Rodoviário, o Parque da Cidade, o Museu de Arte Contemporânea, o Estaleiro Mauá e o Cemitério do Maruí. “Conceição” contou também com uma surpresa para alunos e professores da universidade: a participação especial do professor João Luiz Vieira, do curso de Cinema e Audiovisual, como um motorista de ambulância.
PROIBIDO PROIBIR
De Jorge Durán
Com Caio Blat, Maria Flor, Alexandre Rodrigues
• Havana 2006 – Prêmio Especial do Juri
• Festival do Cinema Brasileiro de Miami 2007 – Melhor Filme, Direção e Ator (Caio Blat)
Paulo é um estudante de medicina que divide uma quitinete com Leon, seu melhor amigo e estudante de sociologia. Leon namora Letícia, mas ela e Paulo se apaixonam. Ao tentar ajudar uma paciente terminal que está no Hospital Universitário a rever os filhos, que não a visitam há bastante tempo, o trio acaba correndo sérios riscos. Político, poético e contundente, o filme passeia pelo Rio de Janeiro, especialmente pela zona norte, e termina na serra de Petrópolis. Mas há espaço para uma cena rodada na Praia do Sossego.
31 MINUTOS – O FILME
De Alvaro Díaz, Pedro Peirano
Com vozes de Pedro Peirano, Alvaro Díaz, Rodrigo Salinas
Produtor em uma emissora de televisão, Juanín é capturado pela multimilionária Cachirula, que pretende incorporar o animalzinho de espécie desconhecida a sua coleção de bichos estranhos. Agora, Juanín precisará da ajuda de seus colegas de trabalho para se livrar das garras da terrível Cachirula e seu comparsa, Tio Careca. Baseado no programa infantil chileno de mesmo nome, o filme estreou em seu país de origem em 2008, mas só chegou ao Brasil em 2012. Apesar disso, “31 minutos” teve várias de suas cenas filmadas no país, mais especificamente, no Rio de Janeiro. Entre as locações, estão alguns bairros da capital, como Centro e Santa Tereza, e a cidade de Niterói, onde foi gravada uma cena na subida da Boa Viagem, bem em frente ao Museu de Arte Contemporânea.
OS DESAFINADOS
De Walter Lima Jr.
Com Rodrigo Santoro, Cláudia Abreu, Selton Mello
O filme faz um retrato da época da bossa nova através da história do conjunto Os Desafinados, um grupo de amigos apaixonados pela música que viajam para Manhattan com o sonho de tocar no Carnegie Hall. Lá, encontram sua musa, filha de uma brasileira com um americano, que acaba se juntando ao grupo. Nas passagens entre o Rio de Janeiro e Nova York, a produção teve algumas de suas cenas gravadas no litoral niteroiense, mais especificamente na região atrás do forte do Gragoatá.
TROPA DE ELITE 2 – O INIMIGO AGORA É OUTRO
De José Padilha
Com Wagner Moura, Irandhir Santos, Milhem Cortaz
• Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2011 – Melhor Filme (Júri e Público), Diretor, Ator (Wagner Moura), Ator Coadjuvante (André Mattos), Fotografia, Roteiro Original, Montagem, Som
• Festival de Cinema de Havana – Melhor Diretor, Edição, Prêmio Especial do Júri de Melhor Filme
Seguindo o sucesso do polêmico “Tropa de Elite”, José Padilha coloca o Capitão Nascimento em meio ao crescimento do poder e da influência das milícias na Zona Oeste do Rio de Janeiro nessa sequência que faz um retrato da política carioca. O filme, que bateu o recorde de “Dona Flor e seus dois maridos” de maior bilheteria do cinema nacional, teve uma de suas principais sequências de ação gravada entre os bairros do Centro e de São Domingos, próximo à sede da Ampla. Madrugada adentro, mais cem pessoas trabalharam na realização da cena, que contou com três carros e de 20 réplicas de armas de fogo.>
Cenas da Filmagem:
O HOMEM DO FUTURO
De Cláudio Torres
Com Wagner Moura, Alinne Moraes, Maria Luísa Mendonça
• Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2012 – Melhores Efeitos Visuais e Som
Nesta comédia romântica, Wagner Moura vive o cientista João “Zero”, que descobre uma maneira de voltar no tempo e salvar a si mesmo da humilhação de ter sido trocado pela namorada em uma festa da faculdade. Porém, o que já não era simples torna-se cada vez mais complicado quando Zero descobre que sua versão mais jovem usou o conhecimento científico para mudar o futuro e ganhar poder. Em meio a essa mistura de romance com ficção-científica, o Museu de Arte Contemporânea serve de cenário para uma das conversas de João com sua ex-namorada, Helena.
A MULHER DE LONGE
De Lúcio Cardoso, Luiz Carlos Lacerda
Com Paulo Brandão, Dulce Bressane, Fernando Torres
No ano de 1968, morreu o escritor Lúcio Cardoso. Autor do livro “Crônica da casa assassinada”, Lúcio deixava um legado que se estendia além da literatura e ia parar no cinema: de sua cabeça saíram diversos roteiros e argumentos, entre os quais está o texto de “Porto das caixas”, de Paulo César Saraceni. Ficavam para trás, também, as cenas rodadas de “A mulher de longe”, filme que marcaria a estreia de Cardoso na direção, mas que nunca chegou a ser finalizado. O material, com imagens gravadas na aldeia de pescadores de Itaipu e em Itacoatiara, em 1949, ficou desaparecido por 60 anos, até ser localizado e parcialmente restaurado pelo pesquisador Esio Ribeiro. Com base nos negativos recuperados e no diário de filmagem de Cardoso, o cineasta Luiz Carlos Lacerda produziu este documentário, em que procura fazer uma viagem pela mente do escritor e o vazio deixado por sua morte.
MINHA MÃE É UMA PEÇA: O FILME
De André Pellenz
Com Paulo Gustavo, Herson Capri, Ingrid Guimarães
Depois de uma longa temporada no teatro, Paulo Gustavo leva para o cinema a personagem Dona Hermínia, uma mãe de família que, decepcionada com os filhos, resolver sumir por uns tempos e se esconder na casa de uma tia. Natural de Niterói, o comediante fez da cidade o lar de sua mais conhecida personagem e sua família. Assim, pontos turísticos como a Fortaleza de Santa Cruz e o Museu de Arte Contemporânea saem de cena para dar lugar a cenários bem familiares para a população niteroiense, como a orla da Boa Viagem, o calçadão de Icaraí e o Campo de São Bento. O close na placa do táxi azul na hora em que Dona Hermínia vai embora de casa não deixa dúvidas a respeito de onde vive a mãezona de Paulo Gustavo.
CONFISSÕES DE ADOLESCENTE
De Daniel Filho e Cris D’amato
Com Sophia Abrahão, Isabella Camero, Malu Rodrigues, Clara Tiezzi
Cerca de duas décadas depois, os diários de Maria Mariana que inspiraram o livro, a peça de teatro e a série televisiva, chegam aos cinemas. O filme acompanha as quatro irmãs com idades que variam dos 13 aos 19 anos, e os típicos problemas de adolescentes: o primeiro beijo, a virgindade, conquistas, rompimentos, homossexualidade. A atualização para 2013 fala da explosão dos preços dos aluguéis no Rio pré Copa e Olimpíada, tem a internet e os celulares como elementos fundamentais na trama e ainda faz piada com a saga Crepúsculo. Tudo muito simpático, mas com aquela cara de tv que a grande maioria das grandes produções tem no atual cinema brasileiro. Tina, a irmã mais velha, mora em Niterói e garante várias cenas na cidade.