Mulheres cineastas – Parte 1

Uma lista como esta não precisa de muitas explicações. A sua necessidade já diz tudo: numa área onde ainda predominam os homens, destacar as mulheres que romperam bloqueios faz todo sentido. Quantos diretores existiram em todo o mundo ao longo da história do Cinema? Certamente um levantamento difícil de ser feito com precisão. Mas nem tão complicado é apontar as mulheres que se destacaram como diretoras. Ainda que proporcionalmente o número seja pequeno, felizmente são muitas e suficientes para serem divididas em três grupos. Optamos por uma ordem cronológica, pelo ano de nascimento, que nos parece a mais interessante para analisar a evolução das mulheres nessa atividade tão especial.

A seguir, as mais importantes cineastas nascidas entre 1902 e 1946.

LENI RIEFENSTAHL

Berlin, Alemanha, 1902 – Pöcking, Alemanha, 2003

Leni Riefenstahl

Cineasta alemã da era nazista, renomada por sua estética, iniciou sua carreira como dançarina, interrompida por causa de uma lesão. Atuou em onze filmes e dirigiu oito. Suas obras mais famosas são os filmes de propaganda que realizou para o Partido Nazista alemão. No pós-guerra, depois de passar quatro anos presa e ter sido considerada apenas “simpatizante” do nazismo, foi boicotada e caiu no ostracismo. Acabou se tornando fotógrafa e mergulhadora. A despeito das polêmicas sobre suas posições políticas, é respeitada e admirada por ter desenvolvido novas estéticas em seus filmes, especialmente em relação a ângulos de câmera, enquadramentos, movimentos de massas e nus.

Principais filmes
A luz azul – 1932
Triunfo da vontade – 1935
Olympia – 1938

Principais prêmios
Festival de Veneza 1935 – Melhor Documentário Estrangeiro (Triunfo da vontade)
Festival de Veneza 1938 – Taça Mussolini / Melhor Filme (Olympia)

GILDA DE ABREU

Paris, França, 1904 – Rio de Janeiro, Brasil, 1979

Gilda de Abreu

Cineasta, atriz, cantora, escritora e radialista, era filha de um diplomata brasileiro e de uma cantora lírica. Começou como atriz de teatro em 1933, passando ao cinema como protagonista da comédia romântica “Bonequinha de Seda” em 1936. Uma das primeiras mulheres a dirigir filmes no Brasil, fez estrondoso sucesso com o melodrama “O Ébrio”, de 1946, até hoje um dos filmes de maior público do cinema brasileiro. O papel principal foi de seu marido, o cantor e compositor Vicente Celestino.

Filmes
O ébrio – 1946
Pinguinho de gente – 1949
Coração materno – 1951

MAYA DEREN

Kiev, Ucrânia, 1917 – Nova York, EUA, 196

Maya Deren

Realizadora e teórica cinematográfica, Deren também foi coreógrafa, dançarina, poeta, escritora e fotógrafa. Seu primeiro filme, “Meshes of the afternoon”, preparou o terreno para os filmes americanos de vanguarda dos anos 40 e 50 e é reconhecido como um marco do cinema experimental. Entre 1947 e 1955, Deren passa quase dois anos no Haiti, filmando rituais e danças Vodu, mas também participando deles, a ponto de adotar a religião Vodu e de ser iniciada como sacerdotisa. Em 1985, o Instituto do Filme Americano (AFI) criou o Prémio Maya Deren, que reconhece e valoriza o cinema independente.

Principais filmes
Meshes of the afternoon – 1943 (co-dirigido com Alexander Hammid, seu marido na época)
At land – 1944
Study in choreography for camera – 1945

Principais prêmios
Fundação Guggenheim, 1946 – Fellowship pelo “Trabalho Criativo no Domínio Cinematográfico”
Cannes 1947 – Grande Prémio Internacional para Filmes de 16mm – Classe Experimental (Meshes of the afternoon)

MARÍA LUISA BEMBERG

Buenos Aires, Argentina,1922 – Buenos Aires, Argentina,1995

María Luisa Bemberg

Roteirista e diretora, nos anos 70 estudou em Nova Iorque com Lee Strasberg. Foi uma tenaz ativista do feminismo e uma das fundadoras da Unión Feminista Argentina, o que naturalmente a levou a realizar obras sobre o universo feminino. Dirigiu seis filmes. “Camila” foi indicado ao Oscar de filme em língua estrangeira em 1985. Morreu aos 73 anos em decorrência de câncer, enquanto trabalhava no roteiro do filme “El impostor”.

Principais filmes
Camila: o símbolo de uma mulher apaixonada – 1984
Miss Mary – 1986
De eso no se habla – 1993

Principais prêmios
Veneza 86 – Venice Authors Prize (Miss Mary)
Havana 93 – Melhor Roteiro e Prêmio Especial do Juri (De eso no se habla)

LINA WERTMÜLLER

Roma, Itália, 1926
www.linawertmuller.com

Lina Wertmuller

Diretora de 31 títulos, entre filmes para cinema, tv, documentários, séries e obras assinadas com pseudônimos masculinos, também é roteirista, trabalhou com teatro, rádio e publicou vários romances. Foi assistente de Fellini em “8 ½”. Seu estilo ficou marcado pelo exagero das atuações em seus filmes, pela carga dramática, pelo rigor com que dirigia seus atores e pela sátira grotesca da sociedade italiana.

Principais filmes
Mimi, o metalúrgico – 1972
Pasqualino Sete Belezas – 1975
Amor e ciúme – 1978
Dois na cama numa noite de chuva – 1978
Camorra – 1985

AGNÈS VARDA

Bruxelas, Bélgica,1928

AGNÈS VARDA

Estudou História da Arte na Ecole du Louvre antes de conseguir um emprego como fotógrafa oficial do Teatro Popular Nacional, em Paris. Após alguns dias filmando a pequena cidade pesqueira de La Pointe Courte, na França, para um amigo, Varda decidiu fazer um filme próprio. La Pointe Courte foi lançado em 1954 e é considerado o precursor da Nouvelle Vague. Foi casada com o diretor Jacques Demy até a morte dele, em 1990. Seus filmes, fotografias e instalações são focados no realismo documental, feminismo e comentário social, com um estilo experimental distinto.

Principais filmes
Cléo das 5 às 7 – 1962
As duas faces da felicidade – 1965
Os renegados (Sem teto nem lei) – 1985
Les glaneurs et la glaneuse (Os catadores e eu) – 2000
As praias de Agnès – 2008

Principais prêmios
Cannes 62 – Palma de Ouro (Cléo das 5 às 7)
Berlim 65 – Prêmio Especial do Juri (As duas faces da felicidade)
Veneza 85 – Leão de Ouro e Prêmio da Crítica (Os renegados)
Prêmio do Cinema Europeu 2000 – Melhor Documentário (Les glaneurs et la glaneuse)
Cesar 2009 – Melhor Documentário (As praias de Agnes)

VERA CHYTILOVÁ

Ostrava, Tchecoslováquia, 1929

Vera Chytilová

Figura de destaque na chamada Czech New Wave, no início dos anos 60, fez parte de um grupo de jovens cineastas da FAMU (Escola de Cinema e Televisão da República Tcheca) – junto com Milos Forman. Como em outros movimentos similares, passaram a questionar a estética vigente, no caso deles o Realismo Socialista, que vigorava no Leste Europeu. Chytilová foi definindo sua identidade estética com base em experimentos surrealistas e dadaístas, carregados de simbologias críticas. Com a Primavera de Praga, seu filme “Sedmikrásky” (Daisies) recebeu críticas severas e foi banido da Tchecoslováquia. Vera ficou marcada como cineasta maldita, mas, ao contrário de vários colegas, permaneceu no país, tornando-se símbolo de resistência.

Principais filmes
Sedmikrásky (Daisies) – 1966
Ovoce stromu rajských jíme – 1970
Vlci bouda – 1987
Dedictví aneb Kurvahosigutntag – 1993

SUZANA AMARAL

São Paulo, Brasil, 1932

Suzana Amaral

Cineasta e roteirista, começou a carreira no final da década de sessenta quando, já mãe de nove filhos e quase avó, prestou vestibular para o curso de Cinema da USP. Fez pós-graduação em Direção na New York University. Realizou seu primeiro longa-metragem aos 54 anos e o último aos 77. Alguns anos depois de participar do Festival de Berlim, fez parte do júri na edição 1990.

Filmes
A hora da estrela – 1986
Uma vida em segredo – 2001
Hotel Atlântico – 2009

Principais prêmios
Brasília 85 – Melhor Filme, Direção e outros quatro prêmios (A hora da estrela)
Berlim 86 – Melhor Atriz e Prêmio da Confederação Internacional de Cinemas de Arte (A hora da estrela)
Havana 86 – Grand Coral (A hora da estrela)

LILIANA CAVANI

Capri, Itália, 1933

Liliana Cavani

Começou sua carreira com uma série de documentários para a RAI – Radiotelevisione Italiana, que acabou produzindo seu primeiro longa de ficção. Prazer e perigo, política e história, mitologia e poder estão presentes em seus filmes que, não raro, chamam mais atenção pelas polêmicas que causam que propriamente por suas qualidades.

Principais filmes
O porteiro da noite – 1974
A pele – 1981
Gestos de amor – 1993

HELMA SANDERS-BRAHMS

Emden, Alemanha, 1940

Helma Sanders

Diretora, roteirista, produtora, atriz, modelo e radialista, começou na TV e, em 67, durante visita à Itália, estagiou com Pier Paolo Pasolini e Sergio Corbucci. Despontou para as telas na época do Novo Cinema Alemão. Realizou obras de cunho autobiográfico e também filmes sobre a situação da mulher na Alemanha. É membro da Ordem Francesa das Artes e Letras e da Academia das Artes de Berlim.

Principais filmes
Alemanha, mãe pálida (1980)
Laputa (1987)
Geliebte Clara (2008)

NORA EPHRON

Nova York, EUA, 1941 – Nova York, EUA, 2012

Nora Ephron

Diretora, produtora, roteirista e escritora, era filha de dramaturgos e cresceu no meio de artistas. Ficou conhecida pelos artigos que escreveu para a revista “Esquire” na década de 70, que geraram o livro “Crazy Salad”. Sua transição para o cinema aconteceu com o roteiro de “Silkwood – O retrato de uma coragem”, em 1983 e, menos de uma década depois, dirigiu seu primeiro filme.

Principais filmes
Sintonia de amor – 1993
Mens@gem pra você – 1998
Julie & Julia – 2009

Principais prêmios
BAFTA 90 – Melhor Roteiro Original (Harry & Sally – Feitos um Para o Outro)

BARBRA STREISAND

Nova York, EUA, 1942
www.barbrastreisand.com

Barbra Streisand

Cantora, compositora, atriz, diretora e produtora cinematográfica, começou a carreira como cantora de boate, ainda adolescente. Logo depois passou a atuar no teatro e continuou em paralelo sua careira musical. O sucesso de sua atuação na Broadway, em “Funny Girl”, levou o musical para as telas em 1968, pelo qual recebeu o Oscar de Melhor Atriz. Depois de atuar em diversos musicais e comédias, e receber seu segundo Oscar (pela canção “Evergreen”, de “Nasce uma estrela”), somente em 83 lançaria seu primeiro filme como diretora.

Filmes
Yentl – 1983
O príncipe das marés – 1991
O espelho tem duas faces – 1996

Principais prêmios
Globo de Ouro 84 – Melhor Diretora (Yentl)

HELENA SOLBERG

Rio de Janeiro, Brasil, 1942

Helena Solberg

Radicada durante muito tempo em Nova York, firmou-se como produtora e diretora de documentários no Brasil e nos EUA. Seus primeiros trabalhos investigam papéis femininos na sociedade moderna e examinam o status da mulher na força de trabalho na América Latina. A partir dos anos 80, fez uma série de documentários sobre temas políticos. Dirigiu também vários documentários para canais de televisão internacionais, como HBO, PBS, Channel 4, Radiotelevisão Portuguesa, National Geographic Channel, entre outros. Voltou ao Brasil em meados da década de 90.

Principais filmes
Carmem Miranda: Banana is my business – 1994
Vida de menina – 2004
Palavra (en)cantada – 2009

Principais prêmios
Festival de Brasília 94 – Melhor Filme pelo Júri Popular, Prêmio Especial do Júri e Prêmio da Crítica (Carmen Miranda)
Havana 95 – Grand Coral de Melhor Documentário (Carmen Miranda – Bananas is my business)
Gramado 2004 – Melhor Filme, Júri Oficial e Popular, e mais quatro prêmios (Vida de menina)
Festival do Rio 2004 – Melhor Filme – Júri Popular (Vida de menina)
Festival do Rio 2008 – Melhor Diretor – Documentário e Melhor Filme pelo Júri Popular (Palavra (en)cantada)

MARGARETHE VON TROTTA

Berlim, Alemanha, 1942

Margarethe Von

Antes de se tornar cineasta, estudou Belas Artes e frequentou a escola de dramaturgia em Munique. Na década de 1960 mudou-se para Paris, onde trabalhou em projetos coletivos de cinema, colaborando em roteiros e co-dirigindo curtas-metragens. Foi uma das atrizes mais famosas no período do “Novo cinema alemão”, atuando em filmes de Herbert Achternbusch, Rainhard Hauff, Rainer Werner Fassbinder e de seu marido Volker Schlöndorff, com quem realizou seu primeiro longa.

Principais filmes
A honra perdida de Katharina Blum – 1975 (co-dirigido com Volker Schlöndorff)
Os anos de chumbo – 1981
Rosa Luxemburgo – 1986

Principais prêmios
Veneza 81 – Leão de Ouro, Prêmio da Crítica e outros três prêmios (Os anos de chumbo)

ANA CAROLINA

São Paulo, Brasil, 1943

Ana Carolina

Cursou Cinema na Escola São Luiz. Em 1968 faz seu primeiro trabalho como continuísta de Walter Hugo Khouri em “As amorosas”. No mesmo ano realiza seu primeiro filme, o curta “Indústria”. Depois de se projetar com “Getúlio Vargas”, realiza, entre 78 e 87, a trilogia que a consagrou. Delirantes, caóticos, inusitados, deslocados, seus personagens possibilitaram grandes atuações, deixando fortes marcas no cinema brasileiro.

Principais filmes
Getúlio Vargas (1974)
Mar de rosas (1978)
Das tripas coração (1982)
Amélia (2001)
Gregório de Mattos (2003)

Principais prêmios
Gramado 83 – Melhor Diretor (Das tripas coração)
Gramado 2010 – Troféu Eduardo Abelin

PENNY MARSHALL

Nova York, EUA, 1943

Penny Marshall

Atriz, produtora e diretora, foi a primeira mulher a dirigir dois filmes que arrecadaram acima de cem milhões de dólares cada (Quero ser grande e Uma equipe muito especial). Entre séries de tv e filmes para cinema, tem em sua carreira como diretora um total de treze títulos. Como atriz desenvolveu toda o trabalho praticamente na tv e tem mais de cinquenta filmes no currículo.

Principais filmes
Quero ser grande (1988)
Tempo de despertar (1990)
Uma equipe muito especial (1992)

BARBARA KOPPLE

Nova York, EUA, 1946

Barbara Kopple

Estudou psicologia na Northeastern University. Desde seu primeiro filme, o importante e premiado “Harlan County”, sobre uma greve de mineiros em Kentucky, relevou um forte engajamento político. Esteva entre os dezenove cineastas que trabalharam juntos, anonimamente, sob a rubrica Winterfilm Collective, para produzir o documentário de investigação anti-bélico “Winter Soldier”. Em 2006 lançou o documentário “Shut Up and Sing”, sobre as controvérsias envolvendo as Dixie Chicks, George W. Bush e as represálias sofridas pelo grupo.

Principais filmes
Harlan County: tragédia americana – 1976
American dream – 1990
Um retrato de Woody Allen – 1997
My generation – 2000
Shut up & sing – 2006

Principais prêmios
Oscar 77 – Melhor Documentário de longa-metragem (Harlan County: tragédia americana)
Oscar 91 – Melhor Documentário de longa-metragem (American dream)
Sundance 91 – Grande Prêmio do Juri e Prêmio do Público (American dream)
American Film Institute 94 – Prêmio Maya Deren

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